sábado, 18 de abril de 2009

Palavras escritas num passado cada vez mais distante...

Olá,

"Sem ter defesas que me façam falhar... Nesse lugar mais dentro... Onde só chega, quem não tem medo de naufragar."

Comprei um navio quando me apaixonei por ti, aliás era mais um veleiro, pois tinha grandes e brilhantes velas brancas, e nele levei apenas duas coisas: alegria e esperança. Comecei a minha viagem, sem rumo definido.. pois não tinha bússola nem mapas que me mostrassem para onde ir. Pouca ou nenhuma experiência tinha na arte de navegar, e por isso aos poucos fui aprendendo. Atravessei mares calmos e senti a leve brisa marítima a soprar nos meus cabelos... tão leve que por vezes podia baixar as velas e desfrutar de toda aquela magia parado no meio do oceano. À minha volta, apenas o mar azul e sereno. Havia dias, porém, em que o mar se revoltava e então grandes ondas assolavam o meu navio, batendo contra ele com uma fúria indeterminável. As grandes velas brancas, com muito esforço conseguíam aguentar a força do vento tempestuoso e grandes raios fustigavam o meu veleiro, rasgando e rompendo tudo o que encontravam. Mas, apesar das dificuldades eu consegui sempre reparar o veleiro depois dessas tempestades e assim prossegui a minha jornada.

Com o tempo, aprendi a guiar-me pelas estrelas, e procurei encontrar um rumo no meio de todo aquele azul. Havia dias em que vislumbrava terras distantes.. pequenas ilhas... e a fadiga de toda aquela viagem levava-me a duvidar de todo aquele mar e a desejar terra firme. No entanto... lutava contra esse desejo com todas as minhas forças.. pois apenas eu sabia o que me teria levado a empreender aquela viagem. Todo o meu pensamento girava em volta de uma pequena coisa... Contos antigos diziam que no meio daquele mar, existia uma pequena e secreta ilha. Nessa ilha encontrava-se um grande tesouro... um tesouro tão magnífico que levaria muitos à loucura se fosse encontrado. Foi dito que muitos o tentaram encontrar, e que apenas um conseguiu chegar à ilha, mas perdeu-se nela, pois a ilha era dotada de uma grande beleza que nos conduzia a imensos labirintos nos quais poderíamos ficar eternamente presos.. Por um mero acaso, um dia ao passear na praia, encontrei um grande e maravilhoso búzio e nele estava desenhado um mapa... e foi assim que iniciei a minha viagem..

A alegria e a esperança, que no início me guiavam uniram-se e deram origem a outros sentimentos, como a felicidade (que mal nasceu subiu ao mastro mais alto e reforçou as velas do meu navio), o carinho (que acalmava o mar, e ajudava a ultrapassar as tempestades) e o amor (que apenas se limitava a estar ali, passeando por todo o navio, sem nunca mostrar estar a fazer algo mais do que isso). Assim continuei a minha viagem e com a experiência dos anos e ajuda dos "sentimentos", aprendi a navegar pelas tempestades.

Numa noite fria, ao olhar o céu, encontrei algo que nunca dantes tinha visto.. uma estrela, mais brilhante do que todas as outras... Shedir era o seu nome e segundo o mapa, a estrela estava directamente por cima da ilha perdida que eu procurava. Saltei de alegria.. tinha finalmente encontrado o meu rumo. Icei as Velas e a a Felicidade tornou-as fortes, o Carinho embalou o mar e o meu veleiro navegava com uma rapidez à qual eu nunca tinha presenciado.

Passados alguns meses, numa bela manhã vi ao longe um recorte no mar... era a ilha secreta. Tinha finalmente encontrado a maravilhosa ilha dos meus sonhos. Aproximei-me e pude ver a majestosa beleza que ela possuía. era encantadora e cheia de preciosidades. No entanto não podia desembarcar, pois a ilha estava inacessível.... rodeada por um enorme vazio intransponível.. Os longos anos no mar, tinham-me feito prisioneiro e a ilha parecia-me demasiado especial para não ser visitada. Pela primeira vez na minha viagem, senti medo. Como poderia eu.. um mero mortal ter o direito de passear nas maravilhosas praias que vislumbrava? Como poderia eu.. colher os tenros e suculentos frutos que pendiam nos ramos daquelas magníficas árvores? Além disso e como se não bastasse, apercebi-me que todo o mar girava em volta daquela ilha... a ilha era o coração do mar. Se ela, o mar ficaria vazio... e eu amava o mar.

Passei alguns dias a rodear a ilha e a minha impaciência e indecisão estavam a enlouquecer-me. Deveria ir em busca do meu sonho? Ou desistir e voltar para trás? O que iria encontrar? Que tesouros escondidos estariam perdidos naquela ilha misteriosa? A única coisa que eu sabia era que a ilha exercia uma atracção demasiado forte para ser ignorada. Era como um vício, uma tentação demasiado grande... E foi aí, na minha indecisão que o pequeno sentimento Amor, que até então nada tinha feito ou dito, interveio... Tornou-se grande e maravilhoso e sozinho construiu uma ponte entre o meu veleiro e a ilha paradisíaca. Assim com a ajuda do Amor pude finalmente chegar à ilha. Estava lá... era real.. não era um sonho!!!

E naquele momento esqueci tudo, limitei-me a passear pelas belas e verdes encostas, a cheirar o selvagem aroma de fantásticas flores, a colher os magníficos frutos e a beber a fresca água dos ribeiros que desciam das montanhas. Não pensava no tesouro, queria apenas desfrutar de tudo o que a ilha me dava. E assim fui feliz durante muito tempo... feliz como nunca antes tinha sido.. e num momento de loucura desmanchei o meu veleiro e aproveitei os materiais para construir a minha casa. Agora já não precisaria dele, pois já tinha encontrado o que procurava. A ilha seria a minha nova casa, e faria tudo para a proteger do mundo. Assim, montei defesas em redor da ilha para abater qualquer navio que se aproximasse dela.. a ilha era minha e só minha... pois quem a procurasse apenas procurava o tesouro e estariam dispostos a destruir toda a beleza da ilha para o encontrar. Para mim, aquela ilha era o meu tesouro...

E vivi feliz na minha nova casa.. até que um dia ao longe vejo um navio aproximar-se... Corri para as minhas defesas e disparei na tentativa de abater o navio... e o mar revoltou-se, pois era ele, e só ele que decidia quem deveria encontrar a ilha. E o mar levantou as suas ondas e destruiu todas as minhas defesas e assim outros navios chegaram à ilha. No entanto dos seus ocupantes nunca nada soube pois as suas casas ficavam do outro lado das montanhas intransponíveis. Para minha infelicidade, notei que as árvores que dantes me davam frutos suculentos, estavam secas e a água dos ribeiros que dantes era fresca e cristalina, era agora turva e imprópria. Os antes verdes montes e vales estavam agora repletos de folhas secas e queimadas pelo sol. Assim, passei sede e fome e desejei novamente o mar... Ai quem me dera nunca ter destruído o meu navio? Como farei agora? Vim em busca de um tesouro, mas apaixonei-me pela ilha e agora sofro por isso? Pensava que teriam sido os outros habitantes da ilha, a contaminar as águas e destruir as árvores. Será que descobriram o tesouro? Será que o reclamaram para si mesmo? E com as últimas forças que me restavam comecei a trepar as montanhas, e após muitos dias e noites de sofrimento cheguei ao cimo e vi o que nunca esperava ver... do outro lado as árvores eram mais belas do que nunca tinham sido, a água era cristalina, os montes verdes... Era um mundo completamente diferente cheio de flores, felicidade e alegria... Era o mundo que eu esperava ter para mim... Enlouqueci e o meu pensamento ficou sombrio.. Que teria eu feito para merecer isso?? Depois lembrei-me das defesas e da minha tentativa em abater outro navio. A ilha estava contra mim... Era ela que tornava as minhas árvores secas e a minha água turva. Ela já não queria que eu lá morasse. Tinha-me apaixonado tanto pela ilha que esqueci o que me tinha levado até ela.. que esqueci que a ilha não era minha por mais que eu a estimasse. E assim comecei a correr pela montanha abaixo, pois o meu sofrimento e culpa eram tão grandes que se tornavam insuportáveis... queria apenas fugir... queria apenas ir para casa e tentar pensar na melhor maneira de poder voltar a ter a confiança da ilha. Queria apenas que ela me amasse como dantes me amava.. E na minha pressa e distracção tropecei numa pedra e caí de um precipício.

Quando recuperei os sentidos, estava numa praia deserta... olhei em redor, mas não reconheci o lugar onde me encontrava. A minha casa não existia, e tudo me parecia diferente e sombrio. Olhei em frente e estremeci... As montanhas?? Onde estavam as montanhas?? Onde estaria eu?? Corri na direcção onde antes se encontravam, mas passado algum tempo cheguei a outra praia. Era impossível.. estava noutra ilha?? Olhei mais uma vez em redor para poder confirmar e incrédulo reparei que as flores desta ilha eram banais, as árvores eram banais e a água era banal. Não havia nada de extraordinário na ilha onde me encontrava.. Era apenas uma ilha.... e assim olhei para o horizonte.. quando vi o que realmente tinha acontecido... Tinha caído ao mar e esse trouxe-me até aqui.. até esta ilha... Ao longe podia ver a fantástica ilha perdida a afastar-se no horizonte.. o mar levara-a e afastara-a de mim... Chorei.. mergulhei num sofrimento profundo maior do que qualquer outro que eu teria sentido... Estava só numa ilha banal... Nunca mais iria ver a ilha pela qual me tinha apaixonado. Não tinha barco para navegar em busca dela, pois tinha-o destruído para fazer a minha casa... O que eu mais queria era poder voltar a ver a minha casa... mas não sabia como.. Olhei o céu e não vi Shedir... estava perdido... estava perdido no meio do mar...

Durante muito tempo, pensei na minha ilha... e na minha casa e apesar de sofrer e de saber que talvez nunca mais a encontrasse teria de tentar... Não me podia guiar pelas estrelas, nem iria ter ajuda, pois a Felicidade, Alegria, Carinho, Esperança e Amor tinham ficado na minha casa. Não teria velas, apenas poderia fazer remos. E teria de suportar as grandes tempestades do mar. Mas eu sabia o que queria e sabia que apesar das dificuldades teria de tentar... nem que fosse a última coisa que fizesse.. teria de tentar alcançar a ilha novamente. E assim construi uma pequena jangada de madeira, com dois remos.. e parti novamente em busca da pequena ilha, e passado algum tempo dei por mim novamente perdido no mar. E quando tentava remar na direcção para onde tinha visto a ilha desaparecer, o mar agitava-se e puxava-me para trás... Desesperava, sentia-me cansado e derrotado... mas teria que ter forças.. teria de conseguir nem que uma tempestade me naufragasse. Não teria medo pois a ilha continha algo que me era muito precioso... continha os meus sentimentos e o trabalho do meu amor. E por mais distante que ela estivesse... ela estava sempre no meu coração, pois nela estavam maravilhas acima de qualquer tesouro e o seu maior tesouro não seria um tesouro se fosse descoberto...

"Mesmo que a vida mude os nossos sentidos... E o mundo nos leve para longe de nós... E que um dia o tempo pareça perdido e tudo se desfaça num gesto só... Eu vou guardar, cada lugar teu... Ancorado a cada lugar meu."


Não espero que compreendas... talvez fiques triste, magoada, enraivecida... talvez me odeies... talvez não sintas nada por mim... talvez não queiras sentir... seja o que for... venha o que vier... eu não espero nada, apenas que compreendas que sejas tu quem fores, sintas o que sentires, faças o que fizeres... esta é a importância que tens e sempre terás em mim. Não podes mudar isso, pois nem mil anos chegariam para eu te esquecer... Preferia desistir de mim mesmo do que desistir de ti... Mostras-te-me o que a vida tem de melhor... e o melhor que eu tenho para te oferecer em troca é o meu amor... Podes não o querer, podes ignorá-lo ou até mesmo esquecê-lo, mas não o apagarás. Pois, eu mais do que ninguém neste mundo sei o quão especial és, e os meus erros por mais que te tenham magoado, mostraram que acima de tudo tu és tudo para mim... Poderei nunca mais te beijar, abraçar ou falar, mas os sentimentos que trago no meu peito são intemporais.. nem chuva os dissolverá, nem vento os levará. Apenas eu faço o meu mundo e controlo o destino da minha vida, ninguém mais tem esse direito... apenas tu... porque tu e somente tu podes afirmar com certeza absoluta que isto que eu estou a dizer é o que eu realmente sinto. Já escutei, falei, lutei... e por mais que as minhas palavras te magoem... por mais que o meu mundo te pareça estranho e ilusório... por mais erros que eu cometa ou por mais vezes que me ignores... o que eu sinto só depende de mim... e nada nem ninguém vai mudar aquilo que sinto.

Beleza? Sexualidade? Desespero? Solidão?... Sim.. talvez seja isso... se quiseres acreditar que o meu amor por ti depende de coisas tão fúteis. Talvez o meu amor por ti seja o reflexo de uma gota no meio do oceano.. perdida no meio de tantas outras. Talvez o seja.... ou talvez o meu amor seja apenas isso... um simples amor em que o único sentido que tem na existência é o simples facto de te querer amar.. é a única magia que o meu coração conhece..... e tu a única que a merece...

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